Barsotti mestre da abstração geométrica

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Pintor, desenhista, gravador e programador visual, Barsotti foi um dos pioneiros a incorporar linguagens geométricas abstratas à arte brasileira. Tornou-se um ícone do neoconcretismo fundado pelo poeta Ferreira Gullar no final da década de 50. O neoconcretismo foi uma reação ao movimento concretista e suas teorias técnico-científicas aplicadas à arte.

A carreira de Barsotti seguiu uma trajetória singular. Sua produção artística se desenvolve no terreno do Concretismo no Brasil. Apesar de paulistano, criou  independência em relação ao grupo Ruptura, coletivo de praticantes de Arte Concreta fundado em São Paulo e centrado na figura catalisadora de Waldemar Cordeiro. A partir de 1954, Barsotti fundou, com seu constante companheiro e interlocutor Willys de Castro, o Estúdio de Projetos Gráficos. Barsotti e de Castro são reconhecidos como pioneiros na renovação da linguagem gráfica utilizada em revistas e marcas institucionais, na década de 1950. Em 1958, Barsotti foi para a Europa e encontrou Max Bill, que exerceu grande influência em seu trabalho. Barsotti estava de volta ao Brasil em 1959 e, a convite de Ferreira Gullar, tornou-se membro do grupo Neo-Concreto. Em 1960 foi convidado pelo designer suíço Max Bill a participar da mostra Konkrete Kunst, em Zurique, uma das mais prestigiadas na área.

Embora o vocabulário preciso que caracteriza a obra de Barsotti seja derivado do Concretismo, a maneira como suas peças constantemente invocam noções espaciais e atuam sobre a sensibilidade do espectador os aproxima da experiência neoconcreta. Com base nos princípios da Gestalt, o artista fez discretas alterações em campos de preto e branco contrastantes, provocando sensações de deslizamento de planos ou curvas na superfície da tela. Ele desestabilizou os formatos regulares, borrando a distinção entre fundo e figura. A certa altura, Barsotti começou a pendurar seu suporte quadrado por um canto, transformando-o em um losango do ponto de vista do espectador.

As diagonais do quadrado, agora colocadas no sentido vertical e horizontal, recuperaram não só o ponto de referência comum com o espectador, mas também a forma ortogonal da arquitetura do local. Outras vezes, Barsotti também pinta as laterais da moldura, sugerindo assim uma expansão da pintura para além do nível bidimensional da tela. Assim como Willys de Castro, Hélio Oiticica e Lygia Clark no mesmo período, Barsotti propôs um debate entre a natureza bidimensional da pintura e o caráter tridimensional da pintura-objeto. Nos papéis percebemos claramente como a decisão de usar determinados valores cromáticos é uma decisão tomada pelo olho. A decisão de colocá-los um ao lado do outro – mesmo que Barsotti aproxime cores cuja coexistência pareceria improvável – faz com que se ativem, produzindo uma vibração especial na superfície da tela. 

No Brasil, Barsotti participou de várias temporadas da Bienal e nas edições de 1987 a 1989, foi homenageado com mostras especiais. Ao longo de sua carreira, Barsotti participou de inúmeras exposições internacionais, na Europa e nos Estados Unidos.

Em 2004, quando completou 90 anos, o Museu de Arte Moderna de São Paulo fez uma retrospectiva de suas obras na marcante exposição “não-cor cor”. Nos últimos anos, o artista vinha desenvolvendo trabalhos como programador visual e fazendo exposições em galerias, veio a falecer em 2010 deixando uma grande contribuição à abstração geométrica.

Ana Maria

Ana Maria

Jornalista com formação em psicanálise e especialização no mercado de arte.

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