Cruz-Díez e Julio Le Parc

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Neste mês destacamos dois grandes mestres da arte ótica e cinética nascidos na América Latina, Cruz-Díez e Julio Le Parc. Ambos são contemporâneos e foram viver em Paris no início da década de 50. Na época, se juntaram a Jesús Rafael Soto, e formaram o trio latino-americano da Op Art, movimento artístico importante na Europa da década de 60, causando grandes transformações na história difundindo novos conceitos artísticos no mundo todo. Experimentações com espaço, movimento, visão e luz marcaram a arte abstrata do século XX, sendo também reação aos avanços científicos e técnicos da época. Após a Segunda Guerra Mundial, a arte cinética começou a desempenhar um papel importante na desmaterialização da arte. A arte só pode realmente se tornar arte quando é vista ou experimentada pelo espectador.

Julio Le Parc foi co-fundador do Groupe de Recherche d’Art Visuel GRAV (1960-68), um coletivo de artistas que propunham a interação do público com a obra, desenvolvendo capacidades de percepção e ação. Estes artistas também inovaram no uso do espaço de atuação, apresentando suas criações em locais alternativos e até na rua. As obras e instalações de Julio Le Parc, feitas da interação entre luz e sombra, são resultado direto desse contexto, o qual tinha como intenção, promover uma arte fugaz e não vendável, com tom sociopolítico. O documento de fundação foi assinado por grandes artistas como García Rossi, Molnár, Morellet, Sobrino, Stein, e outros.

Inspirados em Vasarely, os artistas propunham um comportamento mais ativo e analítico com “consciência da instabilidade da realidade ” e apelo aos espectadores para interagir, chamando o indivíduo à ação.

Neste sentido a arte do venezuelano Cruz-Díez convoca ao movimento e conecta-se intimamente ao deslocamento espacial do próprio participante: animados pelo devir da cor, movem-se órgãos perceptivos, sentimentos, emoções e reflexões, estabelecendo um intercâmbio cinético que é na verdade um despertar fenomenológico capaz de abrir o indivíduo para um novo mundo, para a possibilidade de um outro real. Diferentes aspectos da percepção e experiência fenomenal, tais como luz, movimento, ritmo, estrutura, vibração, espaço, radiância, imaterialidade e rotação. Todas as obras de arte apelam a vários sentidos e, como resultado da interação com o espectador, podem conduzir a percepções extraordinárias. Sinta, veja, ouça e experimente os ritmos, as vibrações, as rotações e os campos de força.

Sua reflexão plástica ampliou nosso entendimento sobre a cor, demonstrando que a percepção do fenômeno cromático não está associada à forma. Cruz-Diez concebeu essa proposição no que ele qualifica como estruturas espaciais, “cromoestruturas” ou suportes para eventos cromáticos, dando origem ao que conhecemos como “Fisicromia”, “Transcromia”, “Indução Cromática”, “Cor Aditiva” e “Cromosaturação”. Em suas obras, demonstra que a cor, ao interagir com o espectador, converte-se em um acontecimento autônomo capaz de invadir o espaço sem o recurso da forma.

Ambos, Cruz-Díez e Julio Le Parc ao longo de sua criação e pesquisa contribuíram de forma vanguardista para a arte contemporânea trazendo novas perspectivas sobre a cor e o movimento. Muitos artistas se inspiram em seus conceitos e certamente ainda haverão novas reflexões e descobertas sobre sua obra.

Ana Maria

Ana Maria

Jornalista com formação em psicanálise e especialização no mercado de arte.

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