Realistas / invenção / solidão

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Tenho o dever de lhes chamar a atenção para coisas interessantes e um pouco diferentes. É o caso de uma exposição no Centro Cultural Banco do Brasil, em São Paulo, com obras realistas e hiper-realistas, tendências norte-americanas dos anos 1960 e 70. Há artistas que trabalham com elas até hoje, embora já não tenham o impacto da novidade. À primeira vista, o que talvez mais impressione seja o inacreditável virtuosismo

técnico dos pintores, que pelos meios convencionais (desenho a crayon, pintura a óleo ou acrílica) criam simulacros absolutamente perfeitos de fotografias. Aliás, o hiper-realismo utiliza fotos como ponto de partida. Como todo movimento artístico, foi uma reação pelo menos parcial às tendências que o antecederam. Surgiu nos Estados Unidos como resposta à pintura abstrata informal que dominou os anos 50. Também fez contraponto com outras tendências mais cerebrais de sua época, como o minimalismo e a arte conceitual.

A exposição do CCBB não lhes causará enormes emoções – não é composta por obras-primas nem por obras dos mais conhecidos realistas e hiper-realistas (como o escultor Duane Hanson e o pintor Chuck Close.). É um resumo bem feito, passa a informação necessária. Dentro desta, o que mais me surpreende é o leve estranhamento causado pela contemplação tão próxima de uma realidade tão intensificada. Não sei se me faço entender. Desde a antiguidade sabemos, com o filósofo Aristóteles, que na arte conseguimos conviver com imagens que nos seriam intoleráveis, até terríveis na vida real – lembrem-se dos quadros de martírios de santos, da cena da crucificação. Os hiper-realistas nos mostram também o contrário. Isolados dentro de uma obra de arte, recortados, fora da vida, aspectos banais da realidade fielmente retratados podem parecer algo irreais. E esse paradoxo faz parte da beleza.

O maior realista do século XX (bem antes do realismo que está na exposição) foi Edward Hopper (1882-1967). Sua obra nos revelou a solidão urbana americana, tal como a conhecemos. Mas eis aqui mais um paradoxo da arte. Hopper não pintava do natural, não via e reproduzia o universo que está em suas telas! Reunia arbitrariamente fragmentos de suas anotações em composições imaginárias. A tal ‘cena americana’ é criação, invenção dele. Quando lhe falaram da imagem da solidão apreendida nos quadros ponderou: “Bem, talvez eu seja um indivíduo solitário”.

Serviço
50 anos de realismo – Do fotorrealismo à realidade virtual
Centro Cultural Banco do Brasil São Paulo
Rua Álvares Penteado, 112 – Centro – São Paulo-SP (Próximo à estação São Bento do metrô)
De quarta a segunda, das 9h às 21 horas
Até 14/01

Paula Reis

Paula Reis

Publicitária formada pela ESPM-SP, faz parte da equipe da Blombô, o primeiro marketplace de arte online do Brasil. Apaixonada por escrever e por Arte em todas as suas formas, vem produzindo conteúdo desde os primórdios da internet e se especializando em História da Arte, com cursos pelo MASP Escola, Escola Panamericana de Arte e outras instituições. Se você tem qualquer dúvida ou sugestão para o Blog, mande uma mensagem: ela também adora conhecer novas pessoas e trocar ideias!

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