Tudo nesta exposição é bom. O artista – o grande Lasar Segall. O local, o novo prédio do SESC no centro de São Paulo (rua 24 de maio). A curadoria, da crítica de arte Maria Alice Milliet. O projeto de montagem das obras, pelo arquiteto Pedro Mendes da Rocha. Não tenho senão como recomendar-lhes a visita.
E por que Segall é grande? Vale a pena explicar. Obras de arte abstratas, sem figuras, evidentemente não têm um tema, um ‘assunto’. Nas obras figurativas há tema, e em algumas ele tem importância, acrescenta um valor; em outras não. Por exemplo, uma paisagem: que diferença faz uma árvore a mais ou a menos? Porém existem obras em que o artista quer dar um recado, transmitir uma mensagem, comunicar sua visão do mundo. O tema passa a fazer parte da qualidade. Foi o caso de Segall (1891-1957), judeu nascido na Lituânia, que emigrou em 1923 para o Brasil, chegando em plena efervescência do modernismo.
No Império Russo da virada do século (do qual fazia parte a Lituânia) ocorriam pogroms, episódios de violência coletiva contra as minorias étnicas e religiosas, que resultavam em destruição geral e morte. As maiores vítimas eram os judeus. Além disso, Segall atravessou a primeira guerra mundial na Europa. Dessas experiências dolorosas derivou o imenso machucado em sua sensibilidade, que o levou a querer tratar do sofrimento humano, das terríveis contingências que assaltam nossa existência. No tema, a maior parte da obra é triste, grave, trágica. Nela predominam a solidão, a velhice, a morte e as catástrofes.
Mas por coincidência tratamos exatamente desse problema em nossa última conversa, sobre a exposição do jovem suicida Pedro Moraleida. A arte tem o condão de dar a volta por cima. As obras aparentemente mais terríveis acabam proporcionando um tipo específico de prazer, e não é por masoquismo que desejamos vê-las. O prazer de encontrar a grande pintura de Segall é imenso. Aproveitem a oportunidade.