Há cerca de meio século (no Brasil, há menos tempo), a fotografia adquiriu o status de arte e passou a frequentar galerias e museus. Sabe-se hoje que não é a técnica nem a dificuldade de produção que determinam o que é artístico ou não. A obra de arte é o registro privilegiado de uma visão (em sentido literal ou figurado) da vida e do mundo – e para tanto a fotografia está em casa.
Mas não basta o simples registro. É preciso talento. Há fotos que querem ser arte – e muitas vezes são só pretensiosas. Simetricamente, há fotos feitas com naturalidade que exibem permanentes qualidades. As do famoso Henri Cartier-Bresson eram todas jornalísticas, anotações de um momento – porém vê-las proporciona sempre um prazer estético.
Tudo isso é para introduzir e recomendar a exposição que está no Instituto Moreira Salles, em São Paulo, com três centenas de fotos da suíça Claudia Andujar (nascida em 1931). Emigrada para o Brasil em 1955, ao longo de décadas ela retratou o cotidiano dos índios Yanomami, que vivem na Amazônia, na fronteira com a Venezuela. Os Yanomami são hoje um povo ameaçado de extinção, de modo que o registro feito por Claudia (um total de mais de 40.000 fotos) se tornou, também, um importante documento político. É um pedido de defesa para os que estão em risco.
Lembremos porém que este é um blog sobre arte. Se as fotografias de Claudia Andujar fossem apenas um documento político ou etnográfico, não haveria por que estar falando delas aqui. Mereceriam toda a atenção mas em outros locais. Elas nos interessam também porque são de extraordinária beleza, no melhor sentido da palavra. Usam brilhantemente seus recursos. Fotografar quer dizer, originalmente, escrever com a luz. Claudia Andujar é um mestre dessa escrita.