Marysia Portinari – uma artista à frente de seu tempo

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Sobrinha de Candido Portinari pintou de pitorescas cenas do interior a enigmática Via Láctea

“O melhor da vida é você ter uma tela em branco, tempo, e ter vontade de fazer um quadro.” Assim começa nossa conversa com uma das mais versáteis artistas da atualidade. Natural de Araçatuba, interior paulista, Marysia Portinari é uma artista multifacetada que expressa sua criatividade por meio da pintura. Com a arte em seu DNA, teve sua trajetória pautada e enriquecida pela influência direta de seu tio, o renomado pintor Candido Portinari (1903-1962). “Nunca esqueci uma das primeiras lições que tive com ele. A primeira coisa que ele falou, foi: ‘quando você vai fazer um trabalho, você vê o espaço que tem e o aproveita da maneira mais certa.’” E, ao ver seus primeiros desenhos, Candido a leva para o Rio de Janeiro onde Marysia tem contato com os esboços iniciais de ‘Guerra e Paz’, um dos trabalhos mais emblemáticos de Portinari – encomendada ao artista pelo governo brasileiro que tinha Juscelino Kubitschek como presidente, à época. O objetivo era para presentear a ONU (Organização das Nações Unidas) em sua sede de Nova York, onde se encontra atualmente. “Foi inesquecível ver tudo aquilo. Lembro que era um estúdio enorme e precisava ser, afinal, o quadro era enorme”, lembra Marysia. ‘Guerra e Paz’ foi pintado entre 1952 e 1956 e é formado por dois painéis com aproximadamente 14 x 10 metros cada um.

Aluna de desenho de ninguém menos que Waldemar da Costa – professor e importante pintor modernista luso-brasileiro –, Marysia ainda estudou história da arte com Flávio Motta no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP), em 1955, ano que pontua, de fato, o início de sua carreira, muito marcada pelos ensinamentos que teve de seu tio, do qual também foi assistente. Já em 1957, a artista expõe seus primeiros trabalhos na Galeria Prestes Maia, expandindo-se também para Lisboa e Madri no mesmo ano. Com cada vez mais interesse nas artes plásticas, a artista passou a pintar lado a lado com o tio no ateliê que ficava no terraço de seu apartamento, de frente para o mar. Ali, começou a aprender as técnicas de pintura à óleo. “Ele me orientava, porque é uma pintura que possui uma técnica muito complicada e quando você pega o jeito, aí tem que praticar muito. Então, ficava o dia inteiro, mas, tem que gostar muito do que se faz e tem que querer muito. Mas, eu sei que foi um aprendizado fantástico, porque era direto”, conta Marysia.

Cavalos, cenas do interior, lavadeiras e tantos outros temas foram dando espaço para criações cada vez mais complexas sob o olhar e traços que foram se sofisticando com o passar dos anos, até que as bucólicas imagens fossem substituídas pelas intricadas pinceladas que passaram a representar o universo. “Como eu conheço muito o interior, eu fazia cenas do interior, como os casamentos na roça e gostava muito de pintar cavalos. Não morei, mas ficava muito na fazenda. Então, essas lembranças ficaram na cabeça e eu as pintava. E, de repente, você passa de uma coisa para a outra sem perceber. Quando meus filhos nasceram eu comecei a pintar crianças brincando, brinquedos e, quando percebi, já estava retratando o universo a partir de umas revistas científicas com as quais tive contato. Naquela época só haviam as revistas, não tinha outros meios de informação tão acessíveis como temos hoje. E aquelas fotos que o telescópio Hubble fazia eram espetaculares, fiquei apaixonada. E foram essas fotos que me muito me inspiraram. Então, comecei pintar retratando o evento ‘Supernova’”, conta a artista. Vale explicar que ‘Supernova’ é uma explosão estelar poderosa e luminosa. Este evento astronômico transitório ocorre durante os últimos estágios evolutivos de uma estrela. “O Universo é incrível e inspirador por si só. Por mais que a gente saiba algo, ainda tem muita coisa para aprender”, pontua.

Marysia Portinari recebeu inúmeros prêmios ao longo de sua carreira, incluindo o prestigioso “Melhor Pintor do Ano”, concedido pela TV Excelsior e pela Associação de Imprensa de São Paulo. Sua contribuição para as artes culminou em 2008 com a publicação do livro “Livro ilustrado de arte: vida e obra de Marysia Portinari: a invenção da memória”, evidenciando seu impacto no cenário artístico. Aos 86 anos, segue ativa, trabalhando e criando novas obras. E finaliza: “Tem muita coisa ainda que não fiz. Vou continuar, aliás, nem comecei ainda.”

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